terça-feira, 19 de março de 2013

Eurobonds: a solução europeia

Antes de entrarmos em qualquer pormenor no que diz respeito ao enquadramento institucional dos Eurobonds, é fundamental enquadrar o porquê destes terem sido identificados como uma solução para a crise de financiamento dos países periféricos.

As origens da crise de financiamento...

No início de 2010, após o Governo Grego ter declarado o estado calamitoso das contas nacionais, que foi escondido durante anos, os mercados financeiros identificaram uma nova potencial ameaça (o risco de dívida soberana, ou seja, da dívida dos estados), tendo surgido pressões sobre outros países da periferia, como por exemplo, Portugal.
















Vemos que a partir de 2010, há uma crescente diferenciação das taxas de juro dos países, o que tem sérias implicações.

Os aumentos de taxa de juro são catastróficas para a economia...
  • Provocam um acréscimo dos custos de financiamento do Estado, aumentos esses que são auto-sustentados, ou seja, à medida que aumentam as taxas de juro, há maior probabilidade de incumprimento, o que gera que ainda mais aumentos da mesma. Ou seja, é um processo explosivo, que pode acabar num incumprimento;
  • Os agentes económicos têm cada vez maior dificuldade de financiamento, o que induz fortes quebras no investimento.
O enquadramento institucional da Zona Euro expõe os países a possíveis ataques especulativos

  • Claúsula de no-bailout: ou seja, em nenhum caso, o BCE poderá intervir no sentido de financiar os Estados-Membros do Euro, ou seja, não deverá ceder-lhes liquidez directamente.
  • O facto de ser uma zona monetária com mobilidade de capital: estando na área do euro, esta moeda permite que se façam diversos investimentos em vários dívidas públicas (por exemplo), sem que se necessite de trocar moeda no mercado cambial. Por exemplo, considerando o caso do Reino Unido, que tem moeda própria ( a libra) e que se financia na sua própria moeda, caso queira vender dívida pública do seu país, fica com libras, que depois poderá aplicar noutras dívidas públicas (por exemplo, por exemplo da zona euro ou dos EUA), mas para isso necessita de trocar as libras no mercado cambial. Tal movimento efectuado por um número significativo de agentes leva a quebra da libra (ou seja, torna-se mais barata), o que desde logo leva a uma perda por parte destes detentores de libras.
Observando a figura anterior, vemos que as taxas de juro sobre as obrigações alemãs têm descido, o que indica uma maior procura das mesmas, que resulta de uma fuga dos investidores de dívidas públicas de países periféricos para dívida alemã. 

Para perceber as consequências do enquadramento institucional, comparemos a evolução das taxas de juro espanholas e britânicas...













Poderemos dizer que estas diferenças se devem a questões como a dívida pública e o défice. Será verdade?














Vemos que, relativamente à dívida pública, as diferenças não são significativas. No que diz respeito ao défice público, o do Reino Unido é de 7,8% e o da Espanha 9,2%, ou seja, também diferenças pouco significativas. Tal demonstra que os riscos de uma zona monetária já enunciados atrás, ou seja, fácil fuga de dinheiro para outras dívidas e um banco central mais disponível para intervir justificam as diferenças. Aliás, viu-se que quando o BCE interviu no mercado de dívida, as taxas de juro baixaram logo significativamente, o que vem dar razão a esta argumentação.

Conclusão

Os eurobonds são uma forma de evitar que hajas fugas de liquidez dos países do sul, no que diz respeito à sua dívida pública, já que fazem com que o financiamento dos países provenha do mesmo mecanismo ( das Eurobonds). Assim, usando euros não será possível desinvestir em dívida pública portuguesa, por contrapartida de investimento em dívida alemã. Estas diferenciações deixarão de existir no mercado, e o risco será observado como sendo da zona euro como um todo. Esta aproximar-se-á do tipo de financiamento dos EUA, que têm diversos Estados, mas uma só via de financiamento, e uma instituição de suporte (a Reserva Federal), que no caso europeu será o BCE. 

PS: vai estando atento, em breve apresentarei uma proposta específica para os Eurobonds, que possa vir a ser seguido pelas autoridades europeias.

4 comentários:

  1. A união europeia é assunto muito complicado e imprevisível.
    Era melhor voltar à soberania e independência monetária e financeira de cada Estado europeu?
    Manuel Ribeiro

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    1. Caro Manuel, a integração num grande bloco económico numa era de globalização parece-me essencial. Penso que todos nós temos a ganhar com isso. Uma saída do euro, poderia ser a curto prazo uma catástrofe económico, para além de ter fortes efeitos permanentes na diminuição da nossa qualidade de vida (tornaria muito mais dificil a compra de habitação, carro, etc.). Assim, devemo-nos bater pela manutenção do euro, sob pena de aí sim entrarmos num processo de empobrecimento.

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  2. -> O supervisionador do BPN (vulgo Vitor Constâncio) assegurava que estava tudo bem... depois foi o que se viu...
    -> O FMI defendeu que banca cipriota era sólida (supervisionadores à Constâncio)... depois foi o que se viu...
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    -> Pessoal que anda por aí a apregoar aos sete ventos... que o FEDERALISMO (nota: implosão de soberanias) é a solução necessária... para que a Europa não caia num caos económico: é PRECISAMENTE o pessoal que, no passado, andou a apregoar «há mais vida para além do deficit»!
    Este pessoal [marionetas ao serviço da superclasse (alta finança - capital global)] sabia, muito bem, que contrair endividamento... esperando um crescimento económico perpétuo... era uma RATOEIRA!...
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    -> Anda por aí muito político cujo trabalhinho é 'cozinhar' as condições que são do interesse da superclasse (alta finança - capital global).
    - privatização de bens estratégicos: combustíveis... electricidade... água...
    - caos financeiro...
    - implosão de identidades autóctones...
    - forças militares e militarizadas mercenárias...
    resumindo: estão a ser criadas as condições para uma Nova Ordem a seguir ao caos (*) - uma Ordem Mercenária: um Neofeudalismo!
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    (*) Países em vias de 'Detroitização'... pode-se ver, por exemplo, «aqui» o "paraíso" que é Detroit.

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  3. Interessantes observações! Mas em Portugal o problema não é apenas financeiro, mas estrutural.
    jack

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