No momento da intervenção do FMI, além dos problemas
orçamentais sobejamente conhecidos de ambos os países, a dimensão dos seus
desequilíbrios externos também se apresentavam como um problema de grande
envergadura. Para isso, vejamos os valores das Balanças Correntes de ambos os
países.
Como é possível observar pelos dados, podíamos concluir que
do ponto de vista externo a situação de ambos é semelhante, apresentando os
dois países valores negativos na ordem dos dois dígitos.
Mas será possível
automaticamente concluir isso?
É importante ver como estes défices são financiados
Primeiramente, há que referir que estes défices podem ser
financiados de vários formas, nomeadamente:
- Financiamento por obrigações;
- Financiamento bancário;
- Empréstimos oficiais (como por exemplo, do FMI);
- Investimento directo estrangeiro;
Há que frisar, antes de observar a situação dos dois países,
que uma situação de financiamento por investimento estrangeiro, é muito mais
vantajosa para o país, por diversos motivos: primeiro, para além do
financiamento, este tipo de investimento traz vantagens económicas, na medida
em que criam um efeito positivo na indústria, e geram postos de trabalho. Para
além disso, no caso do país atravessar uma crise financeira, as saídas de
capitais são mais limitadas. Contudo, há que frisar que há investimento
estrangeiro de qualidade, enquanto que este também pode assumir uma vertente
mais especulativa e temporária.
Analisemos então a
situação dos dois países…
Observa-se que quer em Portugal, quer na Grécia o
investimento estrangeiro representa uma fatia residual, e tem pouca importância
no financiamento externo dos dois países. Isto demonstra a debilidade dos dois
países em termos de financiamento e a sua exposição aos mercados financeiros.
Ao ser um financiamento deste género, mostra os riscos de um contínuo
endividamento, já que com o aumento do mesmo, os juros pagos poderão asfixiar
(como já o estão a fazer), as economias dos dois países. Contudo, salienta-se
que, apesar de tudo, Portugal apresenta a este nível uma situação ligeiramente
melhor, com a percentagem de investimento estrangeiro a ser superior.
Continuamos,
ainda assim, com uma situação semelhante, pelo que já podemos concluir a
similitude dos dois casos?
Ainda não o podemos fazer. É importante olharmos para
o ajustamento que tem sido feito pelas duas economias, após a intervenção
externa. No caso português espera-se já em 2013 um excedente da Balança
Corrente, situação que é bem diferente no caso grego, que desde o início do
plano de ajustamento em 2010, só conseguiu reduzir o seu défice para 10%, como
se visualiza pelo gráfico inicial da Balança Corrente.
A que se deve
isto?
Olhemos para o
comportamento das importações e exportações nos dois casos…
Assim, observando os dados, podemos concluir que a nossa economia tem apresentado maior competitividade externa, situação que se tem tornado cada vez mais notória nos anos mais recentes, com as exportações gregas praticamente a estagnarem, e Portugal com crescimentos apreciáveis das mesmas. Olhando para a variação das importações, notamos claramente que a dureza do ajustamento macroeconómico tem sido maior na Grécia, o que se vê com a evolução das importações que decresceram de forma bastante forte na Grécia. Apesar disso, tal não significou um pleno ajustamento da Balança Corrente (longe disso), o que demonstra os problemas de competitividade da economia grega. Portugal por seu turno, está a ajustar-se com menos dureza, já que as suas exportações têm apresentado competitividade.