Diversos analistas e também a generalidade das pessoas, falam sobre os custos que estas parcerias podem ter sobre os cofres do Estado. No entanto, na hora de contabilizar esses gastos poucos são aqueles que apontam estimativas condizentes com a realidade. O exercício que fazemos de seguida tenta demonstrar os riscos orçamentais que estas parcerias podem comportar.
Comecemos por analisar os custos que estas terão durante os anos do período de ajustamento...
Como vemos os dados são muito preocupantes, já que em 2014, ano em que o ajustamento orçamental deverá passar de um défice de 4,5% para 2,5%, temos desde logo um dado que joga a desfavor (um custo com PPP`s na ordem dos 0,9% do PIB). Aliás 2014 será o ano de maior custo com PPP. Destaca-se também que nesta análise há o risco da própria conjuntura económica sofrer um agravamento e assim as receitas previstas ao nível das parcerias rodoviárias serem menores que as previstas e assim aumentar ainda mais o custo com as mesmas.
A questão que colocamos é: vamos renegociá-las. Isso já foi feito, vamos ver como...
O Governo prevê durante o ano de 2013 poupanças na ordem dos 250 milhões de euros com as PPP`s, mas a renegociação foi mais além disso, englobando a totalidade temporal das PPP`s.
A renegociação levada a cabo pelo Governo englobou uma revisão dos proveitos esperados com as PPP`s que vão até cerca de 2040, que em temos actualizados (ou seja, os valores que temos aí não são valores absolutos, mas sim valores considerando a evolução das taxas de juro, ou seja, consideramos que 1 euro daqui a 10 ou 20 anos não vale tanto como 1 euro hoje) representa mais de 30%, o que é resultado da deterioração das condições macroeconómicas, mas também demonstra em parte as previsões irrealistas que foram feitas na altura da celebração destes contratos. Em termos de encargos brutos também se regista uma diminuição significativa.
Contudo, há um ponto que merece reflexão...
Em que base foi feita esta renegociação. Esta englobou alguns aspectos, nomeadamente:
Redução da taxa interna de rentabilidade prevista para os privados;
Revisão dos contratos de prestação de serviços na cobrança de taxas de portagem;
Redução dos níveis de serviços de reparação e manutenção, passando alguns para a responsabilidade da EP
Ou seja, como se vê há alguma redução, mas parte dela pode implicar novos custos para o Estado, nomeadamente os de reparação. É verdade, que dada a revisão do tráfego é de esperar menores necessidades de reparação e manutenção, contudo a dimensão da poupança apesar de provavelmente ela acontecer, deverá ser contudo menor.
Até 2020, os contratos com as PPP`s serão muito significativos...
Os gastos com as mesmas oscilam entre os 1300 milhões e 1000 milhões de euros, pelo que é necessário tomar medidas que visem uma maior contenção de custos.
Que medidas poderão ser?
Privatização? Poderia ser uma possibilidade para algumas das concessões, mas o preço de venda teria de ser relativamente baixo, uma vez que caso contrário, o tempo necessário para amortizar o investimento realizado seria elevado e não do agrado dos privados. Para além disso, mesmo com um preço muito baixo, as receitas teriam de ser superiores aos encargos para haver interesse nessas concessões.
Aumentar os anos de concessão dando a receita aos privados? É outra das hipóteses, por ordem a diluir o preço das rendas pagas aos privados, contudo o Estado perderia receitas e não era liquido que necessariamente tivesse menos custos e fosse aceite pelos privados, devido ao facto da viabilidade dos investimento ser realizada em termos actualizados, e esse aumento de prazo poderia fazer com que o investimento não fosse viável.
Nacionalização? o Estado teria a total responsabilidade da exploração.
Parece-me que os privados no momento actual não teriam grande interesse na aquisição destas concessões, devido à actual instabilidade e perspectivas negativas sobre o tráfego. Relativamente à nacionalização poderia ter a médio prazo alguns resultados positivos, contudo como está economicamente provado o sector privado tem maior capacidade de gestão de custos do que o sector público, para além de que o Estado teria de arcar com as dívidas arcadas pelos privados, em consequência da construção destas vias. É verdade, que poderia beneficiar de taxas de juro mais favoráveis, mas ainda assim é algo que poderia ser muito pesado no curto prazo, e não beneficiaria o Estado.
Qual então o melhor caminho?
Uma vez que, o caminho da nacionalização me parece ter bastante perigos e incertezas no curto prazo, e a privatização imediata não me parece que seja muito do agrado aos privados, a única opção que resta é a continuação da renegociação das mesmas, algo que o Governo já o fez, tendo obviamente essa renegociação de ter reais benefícios. A criação de uma taxa especial sobre a PPP`s também é algo a ser estudado e que pode fazer com que alguns fundos regressem ao sector estatal.