Recentemente todos ouvimos falar das perdas incorridas pelas empresas públicas, em função de contratos de gestão de risco (os chamados swaps) assinados com instituições bancárias. Contudo, poucos sabem exactamente em que consistem estes contratos e como se calculam as suas perdas. Assim, a função deste artigo é elucidar os leitores sobre o modo de funcionamento destes.
O que são swaps de taxa de juro?
Os swaps de taxa de juro são um instrumento importante para gerir o risco de variações inesperadas nas taxas de juro, geralmente indexadas à euribor. Para percebermos como funcionam estes contratos vamos supor o seguinte:
O Metro do Porto necessita de um financiamento de 1 milhão de euros para a sua actividade operacional. Assim, financia-se junto de um banco (por exemplo, o BPI) a uma taxa de juro dada (7%), que está indexada à Euribor.
O que é a Euribor?
Globalmente, é a taxa de juro média a que os bancos emprestam fundos entre si, ou seja, é um custo dado para o banco e que influencia as taxas de juro oferecidas aos particulares e empresas. Por isso, os juros dos empréstimos estão indexados a esta taxa. Vejamos, por exemplo o caso dos empréstimos à habitação cuja taxa a pagar varia em função desta taxa. Já o mesmo também sucede para as empresas.
Assim, os empréstimos estarem indexados à Euribor cria desde logo uma certa incerteza...
Neste contexto, o Metro do Porto tem a alternativa de recorrer a um contrato de swap de taxa de juro, em que basicamente troca esta taxa de juro variável, por uma taxa de juro fixada. Para o caso que apresentei, vamos supor que o Metro contratualiza uma taxa de juro de 7%, que é fixa, ou seja, é independente de variações na Euribor.
Como se calcula o lucro/prejuízo destes contratos?
Vamos supor que a Euribor aumenta após a assinatura do contrato de swap. O que acontece é que neste caso o Metro terá um lucro, já que contratualizou uma taxa de juro de 7%. Uma vez que, com o aumento da taxa Euribor, a taxa inicial do empréstimo que indiquei de 7% irá certamente aumentar, em função de estar indexada à Euribor, isto faz com que a empresa obtenha uma poupança, já que o contrato de swap prevê uma taxa fixa de 7%. Caso a Euribor tenha tendência a diminuir, a empresa obterá um prejuízo com estes contratos, já que está a pagar uma taxa de 7% fixa, quando poderia estar a pagar uma taxa inferior caso não recorresse a estes contratos.
A partir deste momento e sabendo já em que consistem estes contratos, interessa perceber se haveria motivos para recorrer a estes contratos...
As empresas recorrem por norma a estes contratos. Contudo, a crise financeira de 2008 parece ter tido um papel no aumento do recurso a estes contratos. Aliás em 2009, o Governo de então emitiu um despacho (nº101/09-SETF, de 30 de Janeiro) , onde se incluiam um conjunto de instruções dadas às empresas do Estado, no sentido de mitigarem a volatilidade dos mercados financeiros, entre os quais se incluiam, a necessidade de recorrer a instrumentos de gestão de risco de taxa juro (swaps).
De facto, verificava-se bastante volatilidade da Euribor...
Como já se viu, a Euribor é um elemento fundamental para definir o lucro deste tipo de operações. Assim, quanto maior for a volatilidade da mesma, maior a necessidade de recorrer a estes contratos.
Como se vê pela figura a crise financeira despoletou uma enorme volatilidade na Euribor, em função de toda a instabilidade bancária. Sendo a Euribor uma taxa de juro interbancária, as dúvidas sobre a solvência dos bancos, faz com que entre eles haja uma elevada parcimónia em emprestar entre si, preferindo muitas vezes não o fazer, o que gera aumentos de taxa Euribor. Assim, economicamente faz sentido recorrer em 2009 a swaps, já que a evolução da Euribor era totalmente inesperada.
Acontece que...
A pressão inicial sobre a Euribor dissipou-se, observando-se quebras intensas da mesma.
O facto da mesma cair consistentemente, como já se viu atrás levou a diminuições das taxas dos empréstimos assinadas. Contudo, a empresa não goza destas diminuições, já que aceitou pagar taxas fixas para se proteger do risco, o que levou às enormes perdas de mais de 2000 milhões de euros.
Conclusão
Pela análise parece haver alguma justificação económica para a assinatura destes contratos (por exemplo para 2009). Contudo, e desconhecendo os pormenores do contrato é também possível a existência de algo que justifique uma intervenção judicial, na medida em que é possível a existência de um conluio entre a banca e os dirigentes públicos, já que na exacta medida que estes contratos representam um prejuízo para as entidades públicas, também representam simetricamente um lucro para as contrapartes (genericamente, banca), já que estas recebem uma taxa de juro superior à que receberiam apenas em função das condições de mercado.