quarta-feira, 1 de maio de 2013

A importância do crédito às empresas

A necessidade de financiamento às empresas é um dos temas principais abordados como fundamentais para o restabelecimento do crescimento económico. O Governo através do Ministro da Economia já admitiu a hipótese da criação de linhas de crédito, nomeadamente às PME`s. A oposição (nomeadamente o PS) por inúmeras vezes proclamou esta medida como essencial.

Primeiro questão: como o financiamento influencia a evolução do PIB?

O PIB pode ser descrito como função de diferentes variáveis, nomeadamente:

  • Consumo (público e privado), ou seja, aqui inclui-se todas as despesas de funcionamento do Estado, como por exemplo, consumos intermédios (aquisições de produtos, etc.);
  • Investimento (público e privado);
  • Exportações;
  • Importações
Para o seu cálculo agregamos as 3 variáveis (ou seja, consumo, investimento e exportações) e deduzimos as importações. Porquê esta fórmula de cálculo? Porque a partir do PIB queremos saber o valor da produção realizada em solo nacional, e obviamente, o que foi consumido no país ou incorporado como investimento, e que foi adquirido (ou seja, produzido) no exterior, ou seja, importado, não é produção nacional, razão pela qual se deve deduzir o seu valor.
O financiamento tem impacto directo em duas variáveis: o consumo e o investimento, nomeadamente, privado. Contudo para esta análise iremos centrar-nos na evolução do investimento que é a variável com maior interesse para este caso concreto.

Vejamos como têm evoluído os principais agregados macroeconómicos ao longo de 2012...







Na tabela o investimento é designado por Formação Bruta de Capital Fixo. Como se pode observar em termos homólogos verifica-se profundas quebras no mesmo, sem paralelo nas outras rubricas.

Será esta variação normal?

Ao olharmos também para a área do euro, observa-se que essa maior variação negativa do investimento face ao consumo (por exemplo) também acontece. Por exemplo, para os EUA que estão com crescimento observa-se também uma enorme diferença ao nível do investimento, mas no caso uma evolução muito mais positiva. Isto é algo que a teoria económica prevê, e que deriva do facto do investimento oscilar bastante em função das expectativas actuais, ao contrário do que sucede com o consumo, que tem aquilo que se chama de alisamento, ou seja, as pessoas têm tendência em períodos de forte crescimento a poupar relativamente mais, no sentido de em períodos de forte recessão ter maior folga orçamental.

A narrativa aqui expressa parece indicar que este decréscimo do investimento é inevitável?

Aquilo que aqui referimos é a inevitabilidade de haver uma quebra no investimento via expectativas, ou seja, a recessão provoca um maior receio, o que por sua vez gera quebras no investimento. No entanto, em nenhum momento referimos que os valores descritos na tabela são inevitáveis. De facto, pode ser possível reduzir a quebra do investimento.

A questão que se coloca é como...

Para respondermos a esta questão devemos ir à raiz da decisão de investimento, ou seja, em que circunstâncias é que alguém decide investir. Fundamentalmente, esta depende de duas variáveis essenciais: ou seja, da rentabilidade esperada do investimento, que está relacionada com as expectativas dos agentes; da taxa de juro de financiamento. Assim, um agente racional só investe se a rentabilidade do investimento for superior à taxa de juro de financiamento.

Observemos então o comportamento da taxa de juro...

















Como se vê pela figura acima, a partir de 2010 tem-se registado um aumento acentuado das taxas de juro dos empréstimos a empresas, algo bem acima do verificado na área do euro. Isto quer dizer que além do mecanismo de expectativas, também as taxas de juro têm prejudicado a evolução do investimento, pelo que através deste instrumento há margem para reduzir a quebra do investimento.

Conclusão

Assim, é fundamental que se tomem medidas de apoio ao crédito produtivo, por exemplo utilizando a Caixa Geral de Depósitos. Estas medidas devem incidir não apenas ao nível do aumento da quantidade de crédito, mas também do custo do crédito, de forma a aumentar o número de investimentos elegíveis (ou seja, aquelas que a rentabilidade é superior ao custo do capital) e assim reduzir a quebra do investimento.

2 comentários:

  1. para a rentabilidade ser superior ao custo de capital, este já terá que incorporar as taxas de financiamento externo (bancário), logo estes projectos com NPV>0 serão sempre financiados. ao reduzir estas taxas por força de apoio estatal estamos a incentivar investimentos que não serão competitivos no exterior, dado que as taxas de financiamento que conseguiriam seriam idênticas ou mesmo superiores a estas. será esta a maneira de fomentar o crescimento económico? ou de camuflar mais uma vez as nossas inaptidões para competir em igualdade? até ao euro isto corria porque depreciavamos a moeda, talvez tenha chegado a altura de entendermos que temos de competir de forma autónoma.

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    1. Caro Joao, gostaria de agradecer o teu contributo e espera novas e boas intervenções como esta no blog.
      Relativamente ao ponto que focas, percebo o teu ponto de vista e em parte até concordo com ele. Contudo, pensa de outra forma: numa altura de grande recessão como esta, e em que se vê claramente uma ineficácia do instrumento taxa de juro, que deve funcionar em alturas de crise, não se deve fazer de tudo para que estas sejam mais baixas? É verdade que haverá maus investiemntos, mas isso é algo que é inevitável, mas cabe também às entidades responsáveis avaliá-los. Pensa também que por falta de financiamento e de bom financiamento podem morrer imensos projectos, que teriam um efeito económico muito positivo. O problema desta crise é a sua dimensão financeira, e ao não quereres combate-la estas a criar um grave problema.

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