quarta-feira, 8 de maio de 2013

Os swaps das empresas públicas

Recentemente todos ouvimos falar das perdas incorridas pelas empresas públicas, em função de contratos de gestão de risco (os chamados swaps) assinados com instituições bancárias. Contudo, poucos sabem exactamente em que consistem estes contratos e como se calculam as suas perdas. Assim, a função deste artigo é elucidar os leitores sobre o modo de funcionamento destes.
 
O que são swaps de taxa de juro?
 
Os swaps de taxa de juro são um instrumento importante para gerir o risco de variações inesperadas nas taxas de juro, geralmente indexadas à euribor. Para percebermos como funcionam estes contratos vamos supor o seguinte:
 
O Metro do Porto necessita de um financiamento de 1 milhão de euros para a sua actividade operacional. Assim, financia-se junto de um banco (por exemplo, o BPI) a uma taxa de juro dada (7%), que está indexada à Euribor.
 
O que é a Euribor?
 
Globalmente, é a taxa de juro média a que os bancos emprestam fundos entre si, ou seja, é um custo dado para o banco e que influencia as taxas de juro oferecidas aos particulares e empresas. Por isso, os juros dos empréstimos estão indexados a esta taxa. Vejamos, por exemplo o caso dos empréstimos à habitação cuja taxa a pagar varia em função desta taxa. Já o mesmo também sucede para as empresas.
 
Assim, os empréstimos estarem indexados à Euribor cria desde logo uma certa incerteza...
 
Neste contexto, o Metro do Porto tem a alternativa de recorrer a um contrato de swap de taxa de juro, em que basicamente troca esta taxa de juro variável, por uma taxa de juro fixada. Para o caso que apresentei, vamos supor que o Metro contratualiza uma taxa de juro de 7%, que é fixa, ou seja, é independente de variações na Euribor.
 
Como se calcula o lucro/prejuízo destes contratos?
 
Vamos supor que a Euribor aumenta após a assinatura do contrato de swap. O que acontece é que neste caso o Metro terá um lucro, já que contratualizou uma taxa de juro de 7%. Uma vez que, com o aumento da taxa Euribor, a taxa inicial do empréstimo que indiquei de 7% irá certamente aumentar, em função de estar indexada à Euribor, isto faz com que a empresa obtenha uma poupança, já que o contrato de swap prevê uma taxa fixa de 7%. Caso a Euribor tenha tendência a diminuir, a empresa obterá um prejuízo com estes contratos, já que está a pagar uma taxa de 7% fixa, quando poderia estar a pagar uma taxa inferior caso não recorresse a estes contratos.
 
A partir deste momento e sabendo já em que consistem estes contratos, interessa perceber se haveria motivos para recorrer a estes contratos...
 
As empresas recorrem por norma a estes contratos. Contudo, a crise financeira de 2008 parece ter tido um papel no aumento do recurso a estes contratos.  Aliás em 2009, o Governo de então emitiu um despacho (nº101/09-SETF, de 30 de Janeiro) , onde se incluiam um conjunto de instruções dadas às empresas do Estado, no sentido de mitigarem a volatilidade dos mercados financeiros, entre os quais se incluiam, a necessidade de recorrer a instrumentos de gestão de risco de taxa juro (swaps).
 
De facto, verificava-se bastante volatilidade da Euribor...
 
Como já se viu, a Euribor é um elemento fundamental para definir o lucro deste tipo de operações. Assim, quanto maior for a volatilidade da mesma, maior a necessidade de recorrer a estes contratos.
 
 
Como se vê pela figura a crise financeira despoletou uma enorme volatilidade na Euribor, em função de toda a instabilidade bancária. Sendo a Euribor uma taxa de juro interbancária, as dúvidas sobre a solvência dos bancos, faz com que entre eles haja uma elevada parcimónia em emprestar entre si, preferindo muitas vezes não o fazer, o que gera aumentos de taxa Euribor. Assim, economicamente faz sentido recorrer em 2009 a swaps, já que a evolução da Euribor era totalmente inesperada.
 
Acontece que...
 
A pressão inicial sobre a Euribor dissipou-se, observando-se quebras intensas da mesma.
 
 
O facto da mesma cair consistentemente, como já se viu atrás levou a diminuições das taxas dos empréstimos assinadas. Contudo, a empresa não goza destas diminuições, já que aceitou pagar taxas fixas para se proteger do risco, o que levou às enormes perdas de mais de 2000 milhões de euros.
 
Conclusão
 
Pela análise parece haver alguma justificação económica para a assinatura destes contratos (por exemplo para 2009). Contudo, e desconhecendo os pormenores do contrato é também possível a existência de algo que justifique uma intervenção judicial, na medida em que é possível a existência de um conluio entre a banca e os dirigentes públicos, já que na exacta medida que estes contratos representam um prejuízo para as entidades públicas, também representam simetricamente um lucro para as contrapartes (genericamente, banca), já que estas recebem uma taxa de juro superior à que receberiam apenas em função das condições de mercado.

7 comentários:

  1. A tua explicação está muito clara, no entanto não focaste o problema essencial: os swaps servem para efectuar hedging, que consiste na cobertura de risco, mas também para especular. No caso do metro do porto, contratualizar um swap de taxa fixa faz todo o sentido. Mas adquirir posições em derivados de petróleo e afins já não. Aqui o Metro não estava a cobrir qualquer risco, estava a especular, e se corresse bem havia bónus..este é que é o problema creio eu.

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  2. Sim, focaste um aspecto bastante importante. Contudo, daquilo que pesquisei grande parte da aquisição de swaps tinha o interesse de cobertura de risco (cerca de 70%), pelo que na sua globalidade a minha análise tem em conta somente a cobertura de risco

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  3. O que se passou em alguns destes contratos não foi apenas a utilização de uma taxa de juro fixa como elemento de cobertura de risco. As perdas são de tão grande dimensão face ao passivo das empresas que por mais que a taxa descesse as perdas potenciais nunca atingiriam estes valores. Das duas uma ou existiu alavancagem (se a taxa de juro descesse 1 pp.as perdas seriam amplificadas em x pp.) ou utilizaram-se outros subjacentes (cheguei a ler preço do petróleo, taxa de câmbio euro-dólar) que estão longe de uma perfeita correlação com a taxa de juro. Além do mais ninguém se preocupou com a fixação de um stop para limitar as perdas a um determinado montante.
    Em suma, isto é um retrato da (in)capacidade que grassa nos lugares de topo da Administração Pública (a maior parte das pessoas estão lá em virtude de filiações partidárias). Isto nos EUA o assunto já tinha sido resolvido e os presidentes dos conselhos de administração à data a esta hora talvez já não estivessem em liberdade. Em Portugal vai ficar tudo em águas de bacalhau, aliás é o PS que vai ficar encarregue deste dossier quando foi precisamente no governo do PS que a maior parte destas asneiras foram feitas com vista à desorçamentação.
    Não é por existirem perdas potenciais que o negócio em si é um mau negócio à luz do quadro económico de então a decisão de usar os swaps até podia ter sido racional (os pressupostos depois alteraram-se e as coisas não correu como se esperava, OK há sempre uma componente de risco) é um mau negócio atendendo à magnitude das perdas que leva à conclusão que não foram usados como simples instrumentos de cobertura de risco mas para obter ganhos financeiros (ou o mais certo como exigência dos bancos para continuarem a financiar as empresas) além do mais a Administração Pública não tem técnicos com capacidade para avaliar devidamente o pricing (a margem de lucro dos bancos) neste tipo de produtos. A evolução das taxas de juro é algo incerto mas de possível previsão em termos probabilísticos.

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    1. Caro Ricardo, com este post pretendi demonstrar ao público que de facto é possível haver perdas nos swaps sem haver necessariamente má gestão e incompetência. De facto, as condições de mercados nos últimos anos foram bastante incertas. Agora, há contratos e contratos de swaps. Pela pesquisa que efectuei com base em relatórios oficiais parece-me que algumas empresas públicas (como a REFER recorreram a swaps especulativos), tendo aí de se apurar responsabilidades. Nos outros contratos também o mesmo terá de ser feito. Sei que a minha análise não é a mais completa, na medida em que não tenho acesso aos contratos em si, pois as suas clausulas serão fundamentais para avaliar a sua racionalidade. Assim, cingi-me aquilo que pode ser dito que é que de facto as condições de mercado interferiram no valor dos swaps. Se outros factores tiveram impacto isso é algo que só o futuro nos dirá com toda a clareza. Até lá, será prematuro atirar responsabilidades.

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  4. Toma lá isto que bem precisas!...
    Andas a leste de muitas contas ou ainda não saíste desse teu pequeno mundo universitário liderado por quem quer que tu não alrgues a compreensão dos teus horizontes!...

    http://horizontenews.blogspot.pt/2013/05/tv-russa-expoe-tirania-financeira-com.html


    Abraço

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  5. Ainda estás fechadinho nos ecos daqueles que não te ensinaram nada que valesse a pena para o bem comum.
    Toma lá qualquer coisa que pode abrir-te novos horizontes:


    http://horizontenews.blogspot.pt/2013/05/tv-russa-expoe-tirania-financeira-com.html


    Abraço

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  6. Desculpa lá mas quem é que se atreve a comentar desta forma com base num artigo da TV Russa?

    Tem juízo e coragem, porque o Ricardo pesquisou, reflectiu e emitiu a opinião dele. Quando quiseres discutir economia ou outro tema podes fazê-lo, desde que não venhas com um link qualquer para julgar as ideias dos outros.

    Tu sim vives num pequeno mundo.

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