sexta-feira, 12 de outubro de 2012

As exportações e a nossa capacidade competitiva

Nos últimos dias, temos assistido a um debate sobre a sustentabilidade do aumento das exportações. Determinadas figuras da nossa praça têm dito que este aumento é meramente artificial, e que decorre de um conjunto de factores ligados à actual crise económica. É exemplo disso, o aumento da exportação de ouro, que nos primeiros 7 meses aumentou cerca de 201 milhões de euros.

Sim, é verdade que o ouro foi responsável por 8,3% do total de crescimento de exportações até Julho...

A comunicação social lançou recentemente este valor, e dada a minha desconfiança com as contas que por vezes os jornalistas fazem, resolvi confirmar este valor, tendo obtido exactamente o mesmo, pelo que posso confirmar com total segurança a fiabilidade deste valor.


Também se avisa que uma parte significativa do aumento também se deve aos combustíveis e lubrificantes, o que provoca um aumento da nossa dependência externa

Neste âmbito saliento também a veracidade deste facto, pese embora admita que uma parte dos derivados (produtos transformados do mesmo), possam ser úteis à nossa economia. No entanto, uma vez que não estou na posse de mais dados, não entro por esse ponto. Fazendo alguns cálculos, conclui que este agregado de produtos foi responsável por 31,53% do crescimento das exportações.

Assim, Ouro e combustíveis representam quase 40% do crescimento

Podemos dizer então que o crescimento das exportações é no fundo, uma grande falácia de competitividade?

De modo algum, retirando os dois agregados que referi atrás (ouro e combustíveis), ainda assim obtemos um crescimento das exportações de cerca de 6,2%. Por exemplo, a Alemanha registou até Julho um crescimento de 5,4%. Ou seja, mesmo retirando os factores que referi apresentamos uma boa competitividade. 

Mas ainda poderá sobrar um outro argumento...

Parte da explicação deste aumento de 6,2% a que chegamos poderá ter um novo muito concreto (isto segundo alguns) e chama-se AutoEuropa. Vamos ver se isso será verdade...








A AutoEuropa tem um peso fundamental no sector da construção automóvel em Portugal (aliás, outra coisa não seria de esperar. Contudo, apesar da sua forte quebra, tal não impediu o crescimento das exportações na ordem de grandeza a que assistimos.

Os principais sectores estão a crescer em peso, apesar da crise...













Antes de tudo, saliento que o quadro seguinte não inclui a totalidade das exportações (longe disso, apenas cerca de 1/3 do total), no entanto destaca as principais categorias de produtos e a sua evolução. Pela análise do mesmo, salientamos os seguintes aspectos:

1 - O crescimento acentuado do sector do calçado e do vestuário, e apesar de tudo, a pequena subida do têxtil;

2 - O forte crescimento do sector da maquinaria.

Há fortes indícios de uma modernização da estrutura exportadora, senão vejamos...

A maquinaria registou um forte crescimento, o que demonstra um evoluir da estrutura produtiva. Nota: quando consideramos também a produção de peças nesta área, chegamos a um crescimento mais acentuado, que ronda os 25%. Na área do Euro, o crescimento desta área é mais baixo, e mesmo agregando à mesma o sector automóvel, em que Portugal decresceu (por efeito da AutoEuropa), ainda assim ficamos a ganhar, tendo nós registado um crescimento de quase 10%, enquanto a área do euro 9%. 
O sector químico também registou um crescimento apreciável, na ordem dos 10,6% (ver quadro anterior), enquanto na zona euro o crescimento foi de 7%

Conclusão

Apesar dos eventos extraordinários que aconteceram fruto da crise, a verdade é que na maioria dos sectores exportadores tem-se observado um comportamento globalmente positivo (até mesmo acima da Área do Euro), e que não é fruto desses factores extraordinários. Assim, parece-me sinceramente que estamos a ganhar competitividade, sendo esse já um processo de alguns anos (desde 2006). 



6 comentários:

  1. Já começo a perceber que és muito jovem e os teus professores de economia foram todos judeus!...
    O que aqui expuseste não representa qualquer sustentabilidade mas apenas uma manifestação real, embora temporária, de contrapartidas. Não te esqueças que estamos a falar de Angola e Brasil que, por coincidência das coincidências são os que mais investimentos estão a fazer em Portugal, comprando tudo que não devíamos vender e se preparando para nos tornar ainda mais dependentes. Como se não bastasse essa coisa da TROIKA.
    Exportar ouro?!... Estamos a trocar ouro por bilhetes para concertos musicais, daqueles que são patrocinados por quem nos continua a roubar!... Que raio de exportação é essa?????!!!!... Onde temos as nossas abastadas minas de ouro?!...
    Acabaste de tirar o curso há uns dias e já cometes os pecados que o "diabo" te ensinou?!...
    Vê lá se abres os olhos ou, pelo menos, não tentes ajudar aqueles que têm andado a fechá-los aos Povinho!...
    Abraço

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  2. «Apesar dos eventos extraordinários que aconteceram fruto da crise, a verdade é que na maioria dos sectores exportadores tem-se observado um comportamento globalmente positivo… Assim, parece-me sinceramente que estamos a ganhar competitividade, sendo esse já um processo de alguns anos (desde 2006).»


    Portanto, um país que paga um salário médio de 100, que produz 100 peças, que consome 80 peças e que exporta 20 peças, está pior do que um país que paga um salário médio de 50, que produz 150 peças, que consome 30 peças e que exporta 120 peças.

    Que interesse tem um aumento de exportações se esse facto depende do empobrecimento da sociedade (fruto de salários mais baixos)?

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    1. Caro Diogo, um aumento de exportações pode acontecer de diversas vias e uma delas é a baixa de salários, a qual não me parece se aplicar ao caso português. Este aumento pode depender também da maior capacidade de actuação no mercado e de diferenciação dos produtos, o que me parece ser mais o caso português. Tenho-lhe a dizer também que as exportações são uma via para o enriquecimento, porventura não no curto prazo, mas a médio prazo (num espaço de 4/5 anos), já que permitem a cãptura de fundos ao exterior. Se aumenta essa captura, esse dinheiro entrará na nossa economia, e será distribuido pelos factores de produção (trabalho e capital). Se tiver oportunidade veja uma noticia da ECCO empresa de calçado dinamarquesa que investirá este ano em Portugal e criará 400 postos de trabalho, com o objectivo de exportação. Assim, essas 400 pessoas terão um rendimento adicional, que o gastarão em diversas actividades económicas, dinamizando essas igualmente. Ou seja, a exportação é um caminho para maior riqueza. Saiba também que os ciclos de maior crescimento da nossa economia, foram antecedidos por fortes crescimentos das exportações.

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    2. Ricardo: «Tenho-lhe a dizer também que as exportações são uma via para o enriquecimento, porventura não no curto prazo, mas a médio prazo (num espaço de 4/5 anos), já que permitem a captura de fundos ao exterior. Se aumenta essa captura, esse dinheiro entrará na nossa economia, e será distribuído pelos factores de produção (trabalho e capital).»


      Caro Ricardo, o que é que tem acontecido aos salários portugueses nos últimos anos? O aumento da precarização não tem baixado os salários? O aumento do desemprego não tem baixado os salários? O criminoso aumento de impostos não tem baixado os salários? A inflação acompanhada de uma estagnação dos salários tem baixado o valor dos salários?
      Portanto, aumentar as exportações à custo de uma diminuição salarial é estar a empobrecer a economia e as pessoas. N’est-ce pas?

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  3. Ler "Utopia e Realtà" e "Le Origini del Bene e del Male".

    Ver nos sites:

    http://utopiaerealteleoriginidelbeneedelmale.blogspot.com/

    http://utopiaerealidade-utopiaandreality.blogspot.com/

    http://www.edizioniatena.it/economia.asp

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