segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O erro de baixar salários em Portugal


Recentemente, têm sido várias as vozes que se têm manifestado a favor da baixa de salários em Portugal. Aliás, desde o início do plano de ajustamento o FMI tem insistido na necessidade de baixar os custos com salários (quer ao nível dos salários, ou então através da diminuição dos impostos sobre os mesmos).

Porquê esta reivindicação?

1º Actual situação no mercado de trabalho

As crescentes taxas de desemprego é um dos principais problemas da nossa economia. Assim, as autoridades nacionais vêem como umas das soluções para este problema a redução de salários. Para chegar a esta conclusão, baseiam-se na teoria microeconómica, que passo a demonstrar:





















Ou seja, a partir do gráfico anterior, podemos concluir que quanto maior for o salário de referência, maior será o gap entre o número de trabalhadores que procuram os empregadores, e o número de trabalhadores disponíveis para oferecer a sua força de trabalho. Assim, a lógica das autoridades internacionais é a seguinte: ao diminuir, por exemplo, o salário mínimo, isso provoca, teoricamente, uma maior disponibilidade dos empregadores para empregarem, e existem menos pessoas dispostas a trabalhar, o que faz diminuir o desemprego.

2º Os desequilíbrios externos do País











Outro dos problemas detectados em Portugal prende-se com o forte desequilíbrio das contas externas, que segundo as autoridades poderá ser resolvido através da redução de salários

Mas estará este raciocínio das autoridades internacionais correcto?

Comecemos por esmiuçar o primeiro dos argumentos anteriormente apresentados…

Serão as conclusões acima citadas, assim tão simples: não me parece de todo. Há que ter em conta, que uma diminuição salarial global, provoca uma redução do mercado interno. Assim, isto coloca igualmente em perigo milhares de postos de trabalho, uma vez que as pessoas têm menor disponibilidade para consumir. Assim, o que acontece é que para cada nível salarial, a quantidade de trabalho procurada pelos empregadores será menor.




















Ainda assim, sobra outro argumento: uma redução salarial pode resultar em ganhos de competitividade internacional, o que pode reverter os efeitos negativos no mercado interno

1º Olhemos para o comportamento das exportações a ver se temos tido realmente problemas
















Como se pode observar, nos anos mais recentes (com excepção de 2008 e 2009) tem-se registado crescimento apreciáveis do lado das exportações, o que desmonta a teoria de falta de competitividade da nossa economia.

Façamos então a seguinte questão: se por exemplo fizermos uma desvalorização salarial na ordem dos 10%, 15% vamos ganhar posição competitiva face a quem?

À China e aos Países do Leste?

É de todo impossível, pois os nossos níveis salariais são muitíssimo superiores pelo que é uma "miragem" competirmos via custos com estes países.

À Alemanha?

País que é apontado como um exemplo em termos de política de rendimentos. Segundo diversos estudos, os países do sul têm visto os seus custos salariais aumentarem fortemente relativamente face à Alemanha. Mas será isto uma forte causa de perda de competitividade? Não me parece, pois a Alemanha e Portugal têm estruturas de exportações bem diferentes, pelo que não estão muito directamente em confronto.

















Vemos assim, que as estruturas exportadoras da Alemanha e Portugal são bem distintas, sendo que no caso português temos uma predominância de sectores de menor incorporação tecnológica, enquanto que no caso alemão acontece exactamente o contrário, pelo que conclui-se que no caso da desvalorização salarial, os ganhos de competitividade face à Alemanha seriam residuais, e não anulariam a quebra no mercado interno.

Pergunta final: pode-se concluir assim, que a política de rendimentos portuguesa tem sido correcta?

Não, de todo. Isto porque, os níveis salariais têm crescido bem acima dos aumentos de produtividade, o que tem consequências gravosas, principalmente ao nível dos desequilíbrios externos. Para diversos economistas, como Daniel Gros, os desequilíbrios externos deveram-se a um boom da procura interna, devido ao forte aumento do crédito, em resultado da entrada na zona euro. Assim, assistiu-se a um forte aumento da procura de trabalho, principalmente ao nível dos sectores não transaccionáveis, o que se reflectiu numa profunda falta de moderação salarial. O facto destes crescerem acima da produtividade, indica que a produção nacional não foi capaz de responder a este aumento de procura, sendo que para isso, recorreu-se às importações, que aumentaram exponencialmente, contribuindo para os desequilíbrios externos. A complicar tudo isto, o Estado também não foi capaz de ter políticas restritivas, agravando ainda mais o ciclo de desequilíbrio.

Mas isto está a inverter-se...

Se olharmos para as previsões da Balança Corrente, vemos que esta gradualmente está a equilibrar-se, a um ritmo bastante interessante, o que demonstra que neste momento, não existem pressões do lado da procura agregada, que desequilibram as contas. Assim, e uma vez que isto está a acontecer, não me parece serem necessárias medidas de redução de salários (põe não me parece colocar-se um problema de competitividade internacional). Apenas se tratou de um problema de excesso de procura interna, que está a ser resolvido, através das medidas de austeridade. Contudo, futuramente, deve haver um maior rigor da parte da política de rendimentos, e deve-se promover a existências de aumentos salariais ao nível da produtividade, de modo a evitar estes problemas externos.




22 comentários:

  1. Ricardo. A tua análise parece-me correcta. No entanto faltou refutares o argumento usado por troika e restantes parceiros europeus que assenta nos custos unitários do trabalho ("unitary labor costs"). Alguma razão técnica em especial?

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    1. Caro Nelson,

      Quando fala nos custos unitários de trabalho, estes englobam para além dos salários, a questão da fiscalidade implícita nos mesmos. Não abordei essa questão, uma vez que esta não tem sido falada actualmente, e é impraticável, devido à actual situação das contas públicas.

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    2. Wrong Ricardo! Ainda há dias o Banco de Portugal usou esse argumento para defender uma nova baixa de salários na ordem dos 10%.
      Devias ter argumentado com base na tua análise, que os Custos unitários de trabalho não são calculados com base em dados físicos (unidades produzidas) mas através do rácio entre o PIB * deflator de preço, dividido pelo número de trabalhadores.

      Leitura complementar:
      http://www.voxeu.org/article/internal-devaluations-eurozone-mismeasured-and-misguided-argument

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    3. Sim, é verdade Nélson. Contudo,quando finalizei este artigo, penso que o relatório do Banco de Portugal ainda não tinha sido publicado. Contudo, penso que a parte fiscal neste momento é muito dificil de concretizar, e o que tem sido defendido é uma descida efectiva de salários. No entanto, fica a nota e a promessa de que irei fazer um post sobre a desvalorização fiscal para abordar mais aprofundadamente a questão.

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  2. Apenas um aparte, os cortes salariais que ocorreram na nossa economia não foram efectuados nos nossos sectores exportadores (predominantemente do têxtil e do calçado) mas sim, essencialmente, na função pública. O que do meu ponto de vista altera, significativamente, a análise económica que acima está publicada. Mas efectivamente, a baixa generalizada de salários numa economia cujo salário mínimo é dos mais baixos da Europa, não resolverá o problema da competitividade da economia Portuguesa.

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    1. Apenas gostaria de deixar duas notas:

      - É verdade que os cortes foram no sector público, no entanto, estes servem de referência, também, para o sector privado, pelo que acredito que tem havido tempos de contenção nos mesmos. Aliás, diversas vezes a solução para não fechar empresas, passa por renegociar contratos, e assim moderar a massa salarial. Assim, penso que a minha análise não sai fragilizada, sendo aliás comprovada pelos dados (mais concretamente, pelo equilíbrio da Balança Corrente), que tem por detrás também este efeito;

      - Quando fala em problema de competitividade da Economia Portuguesa, peço desculpa, mas não me parece que isso seja assim tão verdade (como demonstrei no artigo, através da evolução das exportações). O que se passou, como aliás frisei foi um boom na procura interna, que neste momento, está a ser contido. Porque caso existisse um problema sério de competitividade, nunca seria possível um ajustamento tão forte da Balança Corrente, como estamos a assistir.

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  3. Interessante. Ficaria enriquecido se usasse um pouco +econometria e osresultados obtidos quando outros países mudaram a sua política de monetarismo para desenvolvimentismo. Há décadas havia no Banco Mundial um estudo sobre quais as consequencias de se investir p.ex 1 milhão e cada key-sector em cada main-region de um país, em efeitos do aumento da procura local, regional e nacional.
    E ainda o livro do americano investidor de risco Nick Hanauer, THE TRUE PATRIOT.

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  4. Outro item a melhorar: Pouco importa quanto exportamos bruto, o relevante é quanto uma exportação deixa netto no país, por milhão investido. P.ex.a exportação de aeronaves da EMBRAER trouxe muito prestígio para o Brasil,muitos empregos,mas um brutal investimento e monopolizou 70% do total de créditos à exportação, o que travou o desenvolvimento das indústrias que usam componentes locais.
    A exportação de carros, quando 68% do valor delas são componentes e serviços importados, e do que é aqui comprado, 60% são matérias-primas e serviços importados, tem pouco impacto na economia.
    Um posto de trabalho na ind.auto custa um investimento de uns 1,2ME
    já um posto na ind.moveleira custa uns 60mil e usa uns 88% de componentes, matérias-primas e serviços nacionais.

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    1. Ponto também relevante!

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    2. Caro Jack, compreendo claramente a sua análise com a qual concordo na totalidade. Há exportações e exportações, contudo para este ponto que está concretamente em discussão, que se prende com a competitividade internacional de Portugal ou não, a evolução das exportações responde a essa questão claramente. Esta complementada com a evolução da Balança Corrente, demosntra que temos ganho alguma competitividade, e ao mesmo tempo reduzir as importações. Agora, saber se tem monopolizado muito crédito ou não uma única empresa, isso são outras questões (relevantes, é verdade), mas cuja resposta é difícil de dar dado a inexistência de dados.

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  5. ""..É verdade que os cortes foram no sector público, no entanto, estes servem de referência, também, para o sector privado, pelo que acredito que tem havido tempos de contenção nos mesmos..."

    É bom que se faça uma descrição mais detalhada de sectores e não apenas Público versus Privado. Por outro lado o equilíbrio da Balança Corrente deve-se, sobretudo, à perda de poder de compra da Classe Média (essencialmente trabalhadores do Sector Público e cargos intermédios do Sector Financeiro ) o que provocou uma redução significativa das importações!!!

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    1. Relativamente à necessidade de fazer uma descrição mais detalhada, nesta altura (pelo menos) não consegui encontrar dados. Há um estudo recente do Banco de Portugal, mas sinceramente, tal como alguns economistas já vieram dizer, as conclusões do mesmo são no mínimo duvidosas. Tento-me centrar, acima de tudo, na evolução do sector público, que como disse serve de referencial para o privado. Também conheço um conjunto de pessoas que trabalham no privado, e a situação similar (cortes ou estagnação de salários). A moderação salarial que estamos a assistir, é de todo necessária. Tenho dúvidas que o ajustamento seja só pelo sector público (é verdade que uma parte o é), mas também me parece que aquilo que foi feito era inevitável. Temos de ser claros, como disse os nossos desiquilibrios advinham de um excesso de procura interna, que está a ser combatido e ajustado. O Estado pôde conte-la através dos cortes salariais que na altura me pareceram adequados, contudo neste momento penso que esse ajustamento está feito, e novos cortes não são necessários.

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    2. Neste ponto estamos totalmente em acordo!

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  6. Concordo com as tendencias apresentadas para qualquer uma das analises que realizou. Contudo, não me parece que sirvam de resposta em alguns dos itens - como por exemplo, a questão da quebra da procura interna é de facto provocada por uma redução do rendimento, mas não fez qualquer tipo de analise se este efeito era ou não superior ao ganho por aumento do emprego.

    Eu concordo consigo que não poderá haver mais descidas nos salarios na nossa economia, mas não concordo totalmente que isso se justifique pelo lado da quebra da procura. No meu ponto de vista, a solução a prazo para o país é criar condições para alterar o tipo de bens produzidos para exportação, bens com maior valor acrescentado pois são esses que sustentam toda uma ecconomia com mais rendidmento e consumo interno. É isso que se deve ler da estrutura economia existente na Alemanha, como diz e bem, a Alemanha tem uma estrutura de exportações muito diferente da nossa.

    Todavia, concordo que no curto prazo tem que se descer a despesa do estado de modo a que este não tenha que retirar mais a uma economia que neste momento já se encontra com um nível de impostos muito para além do óptimo o que está a retirar-lhe a competividade internacional.

    Outro ponto que discordo na análise é que faça a comparação directa entre custos directos dos salarios entre paízes. É claro que não precisamos de ter um salário mais baixo que a china para que as empresas prefiram produzir em territorio nacional. A próximidade dos mercados e estabilidade são factores também a ter em conta. Assim sendo, qualquer redução provoca certamente algum ganho.

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    1. Caro Jose Duarte, antes de tudo parabéns pela sua participação. Espero que tenha gostado do blog, e desse modo continue a intervir no mesmo.
      Relativamente às questões que colocou, gostaria de deixar algumas notas:

      - A questão da quebra da procura interna provocada pela redução do rendimento. É dificil dizer, com total certeza, se anula o possível efeito de ganhos de emprego devido à baixa salarial. Contudo, ao longo do post tento justificar o porquê de achar que esse efeito pode ser superior;

      - Quando dizer que eu digo que não poderá haver mais descidas devido à procura interna, sim de facto é verdade. A prosperidade económica também depende da economia interna. É verdade que as exportações assumem um papel essencial, mas também é verdade que ganhos de competitividade internacional, também se devem reflectir num crescimento do mercado interno, isto sem comprometer os equilíbrios macroeconómicos. Neste momento, para mim, baixar salários pode ser uma lógica perigosa, e é desnecessária, já que as nossas contas externas a partir de agora começam a equiibrar-se.

      - Quando comparo custos directos de salários com a China, apenas serve para demonstrar os problemas que poderemos ter. Concordo que há outras variáveis fundamentais em equação, no entanto, dizer que qualquer redução provoca ganhos, parece-me discutivel. Não me parece, muito sinceramente, que uma redução como falo de 10% tivesse grandes vantagens, e ganhos de competitividade extraordinários.

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  7. Concordo inteiramente com os pontos do José Duarte.

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  8. O Comentário do José Duarte contêm vários pontos de visto com os quais concordo plenamente.

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  9. Como não tenho o seu e-mail, dou aqui a notícia que me chegou e que gostaria que comentasse em futuros artigos:

    A China pretende dar mais um passo (decisivo) para retirar ao dólar o privilégio de ser a moeda para trocas comerciais internacionais.
    Todos irão preferir utilizar uma moeda valorizada por ouro, do que uma moeda (Dólar/Euro) sem valor real.
    O dólar e o Euro valerão/circularão apenas nos Estados Unidos e União Europeia. Ninguém mais os vai querer.
    Será o fim do sistema monetário actual baseado em crédito (dívida) para um novo sistema equitativo que já está pronto/preparado para o substituir.
    Esta jogada (introdução de nova moeda escudada por ouro), já foi tentada antes, mas os americanos, percebendo que isso significaria o fim da sua "preciosa moeda" a curto prazo, arranjaram pretexto para atacar/destruir esse(s) país(es) e, para servir de exemplo a outros com a mesma ideia, assassinar o provocador - estou a referir-me a Saddam Hussein do Iraque e Muammar Gaddafi da Líbia.
    Esta será a razão do título sarcástico do artigo.
    Os Estados Unidos provocarem a China? Atacarem a China?
    Bem, agora não se trata só da China mas de todo um novo grupo económico de que a China faz parte. Este grupo económico já abrange bem mais de 50% do Planeta.
    Os "espertos do petroleo" estão cada vez mais isolados e são apenas um pequeno grupo de países (Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Itália e Espanha).
    A China não fez antes esta jogada por ser detentora de muitos biliões de dólares e não lhe interessava que os dólares perdessem valor.
    Não é novidade o intenso/maciço investimento que a China tem feito por todo o mundo nos últimos tempos.
    Assim, o que a China tem feito é livrar-se dos dólares, trocá-los por coisas reais, palpáveis e com valor como empresas, infraestruturas, terrenos, minério, etc.
    Entretanto, os Estados Unidos e a União Europeia, procurando obter maiores lucros, mesmo que isso implicasse um incremento do desemprego nos seus países, deslocaram as suas indústrias para a China, estando agora também descapitalizados do seu sistema industrial de outrora e dependentes industrialmente da China.
    Isto é, os Estados Unidos e a União Europeia estão em recessão, sem dinheiro, atolados em dívidas, sem indústria e, os políticos, cuja política nos trouxe até aqui, falam em recuperação...
    O actual sistema monetário está morto, a sua vitalidade é aparente e mantida artificialmente. É apenas uma questão de tempo até ser passada a certidão de óbito.
    Não sei quando, como ou quanto tempo demorará a substituição do velho para o novo sistema. Possivelmente um fim-de-semana não será o suficiente e poderá acontecer 'férias bancárias' (1 semana?) para o novo sistema ser iniciado/introduzido globalmente.
    Com este passo a China irá acelerar a introdução do novo sistema.

    Fontes:
    http://olharxver.blogspot.com.br/2012/09/china-pretende-lancar-nova-moeda.html
    http://www.indiavision.com/news/article/business/339477/china-launc... (Inglês)



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  10. Dúvida:

    Começa por dizer:
    "Aliás, desde o início do plano de ajustamento o FMI tem insistido na necessidade de baixar os custos com salários "

    E conclui:
    "Assim, e uma vez que isto está a acontecer, não me parece serem necessárias medidas de redução de salários"

    Concluímos então que o FMI está errado é isso? Ou é uma questão de opinião? Mas se for uma questão de opinião não devia ser. Não deviam todos basear-se nos mesmos dados e chegar à mesma conclusão? Ou será que o FMI não tem pessoas competentes para análise?

    Ou será que " vamos ganhar posição competitiva face a quem? À China e aos Países do Leste?" é um argumento bastante vago, uma vez que "Países do Leste" tem países com salários menos distantes dos nossos (Polónia) e outros países com salários muitos distantes dos nossos (Bulgária)?

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  11. Caro Bala, a opinião que formula é, com base num conjunto de dados, nomeadamente: a evolução das nossas exportações que tem sido bastante favorável, mesmo em contexto de crise, e o equilibrio da balança corrente. Quando falo na China e nos países de Leste, refiro-me ao grupo de países que mais nos tiraram quota de mercado nos últimos anos. Digo que é complicado competir com estes, devido aos salários mais baixos. Claro que há uns casos e outros. Por exemplo a Polónia está num patamar superior, contudo devo frisar que se optássemos por uma politica de baixa salarial, provavelmente isso iria agravar a destruição do nosso mercado interno, e ganhávamos apenas uma quota de mercado residual. Sou a favor dos equilíbrios externos (algo que não existiu na nossa economia), contudo a partir do momento em que os atingimos, isso demonstra que do ponto de vista salarial, no momento não é necessário reduzi-lo, apenas é um ponto de partida para manter a moderação dos mesmos, e não embandeirar em consumos excessivos.

    Relativamente ao FMI, sou algo crítico da sua actuação, na medida em que me parece que tem uma perspectiva demasiado via custos, e esquecem-se que há outras formas de ser competitivo. Uma economia que se diz desenvolvida deve funcionar segundo um novo modelo económico de qualidade e diferenciação, o que exige bastante mais criatividade e assertividade, do que a mera desvalorização.

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  12. È legitimo discordar do FMI. Contudo para tal é necessário estar muito certo daquilo que está a dizer, não bastando para tal usar termos económicos ou uma semântica complexa.

    Quando diz "Uma economia que se diz desenvolvida deve funcionar segundo um novo modelo económico de qualidade e diferenciação, o que exige bastante mais criatividade e assertividade, do que a mera desvalorização." fala bonito mas pouco diz. Ou seja pouco se traduz em acções objectivas em concretas. Poderia também dizer que o importante é apostar no crescimento económico, na competitividade e na coesão social. Isto é de acção nula.

    Além de que qdo diz que "Uma economia que se diz desenvolvida deve funcionar segundo um novo (já não há esse modelo económico?) modelo económico de qualidade (qualidade = conformidade aos requisitos) e diferenciação, o que exige bastante mais criatividade e assertividade (??), do que a mera desvalorização." parece-me usar termos que pouco fazem sentido neste contexto.

    Em relação à questão dos salários não nos podemos esquecer que em relação aos países de leste, fruto duma herança comunista, são países na sua maioria (ou todos), com forte formação escolar. E alguns deles com mais formação que a nossa. E não uma formação "à martelo" como tem sido a nossa nos últimos tempos. Além da sua localização geográfica no "centro" da Europa. Em suma temos salários mais altos, menos formação e pior localização. Mas mesmo assim não devemos baixar salários para nos tornar competitivos. É uma opinião....

    Cumprimentos

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  13. Caro Bala, claro que aquilo que lhe digo não é algo concreto, mas apenas a indicação de um caminho. Se analisar as economias com um PIB pc superior ao nosso verá que a sua estrutura produtiva não assenta em sectores de mão-de-obra barata, ou seja, se nos queremos desenvolver parece-me que a tendência terá de ser a do desenvolvimento da estrutura produtiva. Claro que isso é um caminho árduo e tortuoso, mas de facto, há que fazer uma análise muito concreta (para a qual não tenho dados) e ver que sectores nos podem dar garantias de futuro. Poderá ser a área dos serviços, em especial o turismo; a investigação? São questões que deixo no ar.
    Fala também da nossa falta de competitividade. Primeiro, mostre-me onde ela está? Como verá estamos a evoluir (veja evolução das exportações). Vá também ver como tem evoluido a nossa estrutura exportadora e verá que esse caminho que falo começa a ser seguido e tem tido já resultados visiveis. A aposta na educação deve ser uma prioridade. Parece-me que neste momento, a austeridade está a surtir efeito ao nível da contenção da nossa procura no exterior, o que era fundamental, pelo que isso nos mostra ao equilibrarmo-nos tão rapidamente que o nosso problema não é competitivo, mas sim de excesso de endividamento.

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